Sanpo
A vontade de comer comida japonesa reinou e lá fomos nós em busca do próximo izakaya. Izakaya, que na verdade é pronunciado izakayá (finalmente aprendi…) se traduz em “um lugar para beber saquê”, em outras palavras, um boteco japonês. Lá servem se saquês e shochu, uma espécie de cachaça japonesa. Além das bebidas, os pratos são servidos em pequenas porções e não há opções de sushis, nem sashimis e muito menos rodízio.
Os izakayas são muito comuns no Japão, mas levam um low-profile em comparação com os bares brasileiros. No Brasil, todos bebem na rua e ficam até altas horas. Já no Japão, é tudo mais discreto – os japoneses frequentam os izakayas que são em ambiente fechado até umas 23h, e depois voltam para as suas casas.
São Paulo é uma das maiores cidades japonesas fora do Japão, e por isso há grande oferta de izakayas pela metrópole.
Decidimos conhecer o Sanpo, localizado no bairro de Pinheiros. Ao entrar, você não dá nada pro restaurante. O ambiente é estreito e comprido, sem muita decoração, algo típico dos izakayas de bairros japoneses. Tem uma cozinha aberta que é simples mas simpática. Ou seja, não é um lugar para ver e ser visto mas com certeza merece uma visita. Vamos falar o por quê.
Cozinha aberta do Sanpo (Fonte: Gastrolândia)
O atendimento é algo de se aplaudir. Chegamos sendo cumprimentados pelo próprio dono Evandro que, além de ser muito simpático, nos recomendou ótimos pratos. Sentamos de frente para cozinha, o que fez nossa experiência muito mais agradável, pois conseguíamos ver tudo que era feito com tanto carinho. Os cozinheiros nos explicaram os métodos utilizados, os ingredientes escolhidos e a melhor forma de se deliciar com os pratos. A atenção deles foi um ponto altíssimo da noite.
Lá tem um cardápio extenso de saquês, mas preferimos focar mais nas comidas já que a fome nunca acaba!
Começamos pelos pratos frios, o famoso usuzukuri de robalo em finas fatias servida em molho ponzu (R$38). Estava delicioso e muuuito fresco! O prato sumiu em 1 minuto.
A curiosidade bateu forte para experimentar o Yukhoe, tartare de atum no estilo coreano servido com pêra asiática, amêndoas laminadas e chips (R$27). Além de lindo, o prato estava sensacional e extremamente fresco. O peixe veio bem geladinho e super bem temperado com um ovo de codorna por cima. A pêra asiática deu um toque doce ao prato que fez toda diferença, e os chips deram uma crocância necessária. Muito gostoso!
steak tartare no estilo coreano com pêra asiática, amêndoas laminadas e chips
Também pedimos o onsen tamago, que é um ovo cozido em uma técnica japonesa. Ele é cozido em baixa temperatura por mais tempo e o resultado é uma clara bem fininha, apenas sustentando a gema que fica com uma textura bem cremosa, diferente de um ovo pochê tradicional. Eles servem o ovo em um caldo Dashi, a base de peixe e cebolinha. Pode ser comido sozinho, ou acompanhado de um prato de udon ou arroz. Tive que experimentar o ovo sozinho que estava tão divino que pedimos mais um para complementar o prato de udon, uma das especialidades da casa.
a foto não saiu boa, mas aqui está o onsen tamago servido individualmente!
Em uma noite fria, nada melhor que um udon para esquentar né?. A casa oferece vários tipos, mas optamos pelo Kitsune Udon que leva macarrão Udon (de massa branca), caldo à base de shoyu e peixe, aburaage (tofu frito por imersão, com textura esponjosa), nori (um dos vários tipos de algas marinhas) e cebolinha picada. Pedimos o onsen tamago para complementar o prato e o chef nos fez uma sugestão que fez toda a diferença! Ele disse para estourar a gema mais pro final do prato, depois de ter comido o macarrão para assim formar um caldo mais grosso extremamente saboroso. Amamos a dica!
Kitsune Udon – sensacional!
Partimos para os pratos recomendados pelo dono, começando pelo Shogoyaki que são tiras de carne suína puxadas em molho a base de shoyu e gengibre servidos com vegetais salteados (R$30). Esse estava de comer de joelhos! O molho era uma coisa de outro mundo, a carne estava macia e muito saborosa e os vegetais deram o equilíbrio certo para o prato.
Shogayaki delicioso!
Pedimos também o buta no kakuni que é pancetta (barriga de porco) cozida lentamente e servida no próprio molho (R$28). Estava gostoso mas achei um pouco gorduroso demais comparado com outros pratos desse tipo que já havia experimentado. Mas as partes sem gordura estavam macias e super saborosas. E, é claro, tive que tomar o caldinho que estava magnífico.
Buta no Kakuni – barriga de porco com cebolinha em seu próprio caldo
Fomos recomendados a pedir o Karaage que são pedaços de frango empanados e servidos em molho ponzo (R$28). Estava tão bom que até repetimos a porção! Vimos os cozinheiros fritando o prato na hora, então chegou a mesa super crocante e macio e molhadinho por dentro. Por mais que é empanado, o prato não pesou.
Karaage – tão bom que repetimos!
Por fim, tivemos que experimentar o verdadeiro PF japonês: o Katsu Karê à cavalo (R$39) que leva molho curry no estilo japonês, bem encorpado e servido com arroz quentinho, tonkatsu (carne suína empanada) e um ovo frito para finalizar. O prato é muito diferente do que estou acostumada a comer, mas eu gostei bastante! O molho de curry é mais grosso e apimentado, por isso o arroz é necessário para balancear o prato. O tonkatsu estava sequinho e muito gostoso! Aprovado!
Katsu karê à cavalo
Estávamos quase explodindo de tanto comer mas não tem jeito de recusar a sobremesa. Pedimos um sorvete de matchá a base do chá verde japonês. Muito refrescante e perfeito para limpar a paleta depois de tantos sabores fortes.
Sorvete de matchá
E por fim, o cheesecake de tofu com calda de toffee. Meu deus que maravilha! É mais para um flan do que um cheesecake pois é super airado e levinho. A calda de toffee combinou perfeitamente com o recheio.
cheesecake de tofu com calda de toffee
Uma experiência gastronômica pra lá de espetacular, com atendimento primoroso e pratos simplesmente deliciosos! Minha sugestão é tentar sentar com vista para cozinha, assim você consegue ver o que está sendo feito, além de bater um papo com os cozinheiros que são muito simpáticos e prestativos. Fomos em uma quinta-feira e não estava tão cheio, o que foi perfeito. De acordo com o dono, o ideal é vir em dias de semana que o movimento é mais tranquilo.
Vale muito a visita!
Endereço: Rua Fradique Coutinho, 166 – Pinheiros (SP)
Telefone: não tem, é melhor fazer reserva pelo próprio Facebook ou pelo e-mail sac.sanpo@gmail.com. Eles respondem na hora!
*Só aceitam dinheiro ou cartão de débito
*Somente aberto para o jantar (das 19h às 23h30)
CUSTO: os pratos variam em torno de R$30 com porções que dá tranquilamente para dividir.
AMBIENTE: muito simples, discreto e escondido. Não é um lugar para ver e ser visto. A cozinha aberta é muito bacana para ver todos os pratos sendo feito na hora.
SERVIÇO: extremamente atencioso. O dono que nos atendeu e nos recomendou ótimos pratos. Os cozinheiros foram muito bacanas ao nos explicar tudo sobre os pratos. Nota mil!
VALE A PENA?: muito! Esse é um lugar para quem aprecia comer bem, dividir vários pratos e ser bem atendido. Não é um lugar badalado mas para ir com poucos amigos que prezam a qualidade da comida e a proposta de izakayas.